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domingo, 4 de julho de 2010

CONCLUSIVA


não tenho saudades
de quase nada
a não ser
do tempo em que,
embriagado de pólen,
fui flor,
fluí flor;
flor incurável
que durou uma juventude
inacabada

eu tinha cor
eu tinha cheiro
eu tinha luz

eu tinha um tinteiro
escarlate
onde mergulhava
meu caule rígido
encharcando-o de sangue
espesso e grave
para escrever poesias
que hoje estão gravadas
nas paredes dos jardins
que já não existem mais

tudo se consumiu
entre o tempo que não passou
e a alegria que nunca
pude provar
com meus lábios roxos
e minha face pálida

porque foi com lesões
deformações
e murcha mentos
que a vida escreveu minha história
no meu próprio corpo

hoje estou um baú
que carrega dentro de si
apenas o sentimento do vazio
e todo o meu resto incomunicável

Oswaldo Antônio Begiato

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