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quarta-feira, 30 de junho de 2010

DESTERRO


Retiro-me para o asilo de minhas palavras.
Não me digo nada e quando o digo não me ouço;
Não há muito que dizer e menos ainda o que ouvir
Na estreiteza deste canto onde isolo meus alicerces.

Deixo-os ali repousando longamente.
Não me é necessário ver muitas coisas
Nem que vejam o estado do meu rosto.

Cubro-me com os primeiros andrajos que se me apresentam
E muitas vezes me esqueço de pentear os cabelos,
Banho-me raramente em águas
Sem perfumes
E adormeço quando o sono pesa-me à cabeça,
Sempre tarde, e cedo desperto.

Às vezes não adormeço para não ter que despertar.

Como pouco e fumo e bebo muito.
Minhas veias se ressentem dos exageros.
Tudo é tão vago e distante.
Cumpro estritamente o meu direito de viver,
Não vou além das minhas forças.

Emagreço e minha palidez é clara,
Minhas forças se perdem com o tempo,
Meus passos se tornam trôpegos,
Meus braços não sustentam o peso de minhas mãos,
Mãos que outrora quiseram ser generosas.

Não tenho vontade de recolher o pão,
Pão duro, que se acha espalhado pelo chão
Tampouco a vontade de acender as achas
Do forno que produz o pão novo.

Retiro-me para esse anacrônico lugar
Desfazendo-me de minhas aborrecedoras mágoas.
Não mais as revelarei a ninguém,
Não as darei ao tempo para que cuide delas.

Despejo-as para fora de mim,
Não as quero mais comigo.
Que o vento as leve para longe,
Muito longe do meu reticente coração.

Porque eu...
Eu vou é viver livre
Esta minha vida.
Leve-me ela para onde me levar,
Traga-me ela as dores que me trouxer.

Que eu seja doído como a verdade.

Oswaldo Antônio Begiato

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